Pe. Antonio Ranis dos Santos
C.Ss.R.- Vigário Episcopal para os Religiosos, na Arquidiocese de Natal
Durante o mês de agosto a Igreja Católica em sua liturgia costuma dar um enfoque às diversas modalidades de vocações, pedindo ao Senhor da messe para que desperte nas famílias e comunidades pessoas que queiram verdadeiramente se colocarem na condição de operários(as) a favor da edificação e promoção dos valores do Reino de Deus. Reino este, da justiça, da paz e da verdade em todas as sociedades.
Da escuta criteriosa, e resposta refletida, nasce a experiência da inserção da vida religiosa na sociedade. Para melhor compreensão dessa significativa e rica prática evangélica que é a presença inserida de homens e mulheres consagrados(as), padres, freiras e irmãos pertencentes a uma congregação ou ordem religiosa atuando juntos às camadas populares como os abandonados, empobrecidos, marginalizados e todas as vítimas das injustiças provocadas por estruturas sociais, se faz necessário dizer: desde sua origem, a vida religiosa consagrada se consolida na história de modo “carismático, como uma aventura para o desconhecido”, do profundo e inquietante anseio profético de se inserir especificamente num determinado tempo e lugar socioeclesial crítico.
Nos vários períodos da história da Igreja e da sociedade, sobretudo quando se percebe em setores dessas duas instâncias o distanciamento e afastamento dos ensinamentos de Jesus, o Espírito Santo faz surgir figuras de homens e mulheres na Igreja com inspiração, compromisso e força transformadora capazes de serem sinal e apelo por profundas mudanças sociais e eclesiais e indignação diante da falta do dever ético, justo e moral. São pessoas que provocam as estruturas despertando nestas compromisso com a fidelidade aos valores humanos e evangélicos indispensáveis no processo de civilização e humanização dos grupos sociais.
Neste contexto sócio-religioso, os monges do século XIII deixaram as fortalezas dos mosteiros e foram para o deserto. Com o passar do tempo surgem as ordens mendicantes (franciscanos, dominicanos e servitas), com inspiração de se localizarem nas periferias social e eclesial; final da Idade média, houve o surgimento de várias congregações religiosas modernas tanto masculinas como femininas com “ânsia de voltar ao evangelho e purificar os costumes”.
Pode-se afirmar que muitos dos processos de conquistas, avanços e transformações ocorridos na história da sociedade latino-americana, e de modo particular, no Brasil se deve ao papel preponderante da vida religiosa inserida enquanto participa ativamente - embora algumas vezes de modo recatado - das lutas, exigências por mudanças no cenário político, econômico, e sócio-eclesial. Transformações e conquistas são alcançadas graças aos questionamentos e indignação desse setor da igreja que junto a outros organismos da sociedade civil, são capazes de se organizarem, se articularem e partirem para a busca dos direitos das classes desfavorecidas, cobrando e exigindo dos poderes públicos implementações de melhores leis e condições favoráveis à cidadania.
É bom esclarecer que a inserção dos religiosos(as) na sociedade nasce da experiência profunda que essas pessoas têm com Jesus Cristo. É fruto da fidelidade ao seguimento a Jesus que durante sua atuação missionária via as multidões e era tomado de compaixão por elas, pois estavam como ovelhas sem pastor. (Mc 6, 34). Jesus teve um programa de vida totalmente voltado para o bem e a libertação das pessoas. “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor”(Lc 4, 18).
Hoje se vive o kairós, tempo da graça de Deus. A presença carismática do Papa Francisco, interpelando a vida religiosa e toda a Igreja a permanecerem inseridas nas realidades que agridem e ferem a vida humana e planetária. Neste novo tempo a convocação para todos religiosos(as) é de se inserir nas periferias existenciais, levando esperança, provocando mudanças e testemunhando o amor incondicional do Deus Pai que se revela no rosto misericordioso de Jesus, colaborando intensamente para o surgimento de uma nova civilização marcada pelo o amor, o cuidado, a paz e alegria que brotam do evangelho.
fonte: http://tribunadonorte.com.br/noticia/a-insera-a-o-da-vida-religiosa-na-sociedade/322306
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